sábado, 14 de junho de 2008

Edição de um jornal


No processo de edição de um jornal, querendo ou não, pode se presenciar a opinião do autor. Pois ao receber a grande tarefa de escrever, terá a opção de ir a favor ou contra. Para um autor já mais conhecido do público é mais seguro emitir suas opiniões, enquanto o iniciante deve ter bastante prudência ao argumentar algo. Como é chamado “vôo solo” no jornalismo, é acerto consagrador ou erro desastroso. A palavra publicada é uma arma poderosa e fatal.
Em uma das mil maneiras onde se pode encontrar a opinião é nos editoriais, nas crônicas, nos artigos, nas cartas dos leitores, no corte de uma foto e na coluna, que deve ser um lugar atraente. Somar o bom-humor, a originalidade, a sagacidade, a agudeza de espírito e a perspicácia de dizer o máximo com o mínimo de palavras.
Tudo gira em volta da opinião, a posição de uma matéria na página, o tamanho da foto ou o conteúdo dela, o corpo usado no título e etc.
As notícias do jornal são a matéria-prima natural da opinião, mas não a única. A opinião deve ser manifestada de forma leve, irônica ou séria, seca, mas de forma alguma sendo pomposa ou solene.

Resenha Crítica sobre o documentário “Vlado – 30 anos depois”

Trinta anos depois da morte de Vladimir Herzog, o diretor João Batista de Andrade, resolveu fazer um documentário em homenagem ao seu amigo brutalmente assassinado.

Na noite do dia 24 de outubro de 1975. Vlado, como era conhecido por familiares e amigos, diretor de jornalismo da TV Cultura, apresentou-se na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, foi morto aos 38 anos. Segundo a versão oficial da época, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os testemunhos de Jorge Benigno, Jathay Duque Estrada e Leandro Konder jornalistas presos na mesma época, Vladimir foi assassinado sob forte tortura.

A morte de Herzog foi um marco na ditadura militar (1964 - 1985). O triste episódio paralisou as redações de todos os jornais, rádios, televisões e revistas de São Paulo. Os donos dos veículos de comunicação fizeram um acordo com os jornalistas. Todos trabalhariam apenas uma hora, para que os jornais e revistas não deixassem de circular, e as emissoras de rádio e televisão continuassem com suas programações.

Apesar de riqueza de depoimentos fascinantes e recursos de “super-close” – um tipo de filmagem que faz com que os rostos dos entrevistados ocupem quase que completamente o espaço da tela – e uma nervosa câmera na mão, que provoca uma constante sensação de “realidade” e “presença” no espectador, como se estivéssemos frente a frente com o entrevistado, faltou com as imagens e fotografias. Não mostraram pelo menos uma foto do general Ednardo, comandante à época do II Exército e, funcionalmente, o responsável direto pelo assassinato de Vlado.

João Batista nos apresentou uma homenagem pra lá de digna. E, acima de tudo, necessária. Não só para que jamais nos esqueçamos dos horrores da ditadura. Mas também, para que todos possam lembrar aqueles quem lutaram para democratizar o país.

DILEMA
O jornalista pode (deve?) publicar texto mesmo sabendo que pessoas serão prejudicadas.

Com certeza. Um bom jornalista deve mostrar os fatos sem esconder nada, mesmo sabendo que algumas pessoas serão prejudicadas. A realidade deve ser vista por todos. Se as pessoas forem prejudicadas é porque tem algo errado, então tudo tem que ser mostrado com clareza.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A desobediência mata

Hoje acordei preocupado, pois a situação se agravava. Minha mãe doente em cima da cama e eu completamente impotente, sem saber o que fazer. Torna isso cada dia mais difícil. Meus irmãos necessitam de tudo. Vinha em minha mente sempre a imagem de todas as vezes que eu quis um emprego decente e não consegui. Dos momentos que não me deram oportunidade, batendo a porta em minha cara. Mas eles precisavam de mim.
Tratei de solucionar o caso com a última alternativa que me restava. A única herança deixada pelo meu pai, que, ao morrer, em suas últimas palavras, disse-me: “Proteja nossa família. Nunca use a arma que temos para outra finalidade, a não ser para defender sua mãe e seus irmãos”. Meu pai tinha muito receio de sermos agredido, pelos ditos “donos da nossa comunidade”. E, por isso, adquiriu a arma para não ficarmos tão vulneráveis e expostos à marginalidade que rodeava nossas vidas.Pensava no que meu pai me recomendou. E, ao mesmo tempo, era toda aquela situação deprimente sem saber o que fazer. No impulso, peguei a arma e saí sem rumo. Ao passar na frente de um banco, avistei um senhor contando cédulas e cédulas. Ali estava a solução dos meus problemas: a minha última esperança. Esperei que ele atravessasse a rua e o segui. Ao ver que podia abordá-lo, o ameacei com a arma, dizendo-lhe para passar a grana. Inesperadamente, o velho reagiu bruscamente, me assustando e sem pensar duas vezes atirei, acertando-lhe a cabeça. Com o barulho, chamei a atenção das pessoas e fugi desesperadamente. Fiquei sem o dinheiro e com a minha consciência pesada por não ter acatado o pedido de quem tanto pediu proteção à minha família e acabei destruindo outra.

O velho Chico

Francisco, o velho Chico, era conhecido no batalhão. Um PM de classe média baixa, aposentado. Levava uma vida tranqüila, porém, com algumas dificuldades financeiras. Pai de dois filhos, viúvo, batalhava bastante para dar uma vida mais confortável à sua família. Apesar da grande dor da perda da sua companheira, tinha em seu coração um alívio de logo poder melhorar sua situação de vida, proporcionar aos seus filhos melhores oportunidades neste mundo tão cheio de conturbações. Estava próximo o grande dia, no qual tornaria seus sonhos realidade, receberia uma indenização vultosa, oriunda dos anos de trabalho prestados à sociedade como policial militar.
O velho Chico acordou cedo como de costume. Havia chegado o dia tão esperado. Dirigiu-se ao banco e assim recebeu a pequena fortuna. Ao sair do banco, sentia que, agora sim, era possível realizar seus desejos e aspirações. Distraído em seus pensamentos, ao atravessar a rua, atentou para o fato de estar sendo seguido. Acelerou o passo, mas de nada adiantou. Logo foi abordado por um jovem que portava uma arma, exigindo-lhe que entregasse a quantia em seu poder. Chico, sob influência da sua profissão, reagiu bruscamente. Naquele momento, ouviu-se o disparo do tiro que atingiu sua cabeça. O velho Chico caiu e o rapaz fugiu em disparada, chamando a atenção de todos a sua volta. O comentário que prevalecia não era comum. Todos ficaram aterrorizados. Ninguém esperava aquilo.

"1968 - O ano que não terminou"

Para os que viveram o que seria um banal acontecimento, ele permanece como um misterioso marco cujos símbolos e significados ocultos a memória e o tempo vão-se encarregando de descobrir, ou de criar, até obter o material com que se fazem os mitos.
Algo tinha-se movido em 67, ainda que parecesse que se movera para continuar igual. De qualquer maneira, a ditadura havia trocado de ditador, a legislação revolucionária fora substituída por uma Constituição.Com algum otimismo, encontravam-se boas razões para esperar um feliz 68.
Havia a ameaça incansável da censura e de outras forças obscurantistas. Mas estes riscos de retrocesso encontravam o setor cultural vigilante e cada vez mais consciente da necessidade e da possibilidade de resistência. Havia, como sempre, a situação social e política carregada de problemas, o arrocho salarial, os sindicatos sob intervenção, uma insuportável inflação de 40% ao ano, que Delfim Netto prometia reduzir para 25%, mas o segundo governo militar anunciava que queria restabelecer o diálogo com a sociedade e com a classe política. Só por isso o ano de 68 já seria um avanço.
O ano foi marcado por revoltas estudantis na França e pela Primavera de Praga, em oposição ao domínio soviético na então Tchecoslováquia. Em 65, quando foi criado O Festival de Cinema Amador, do JB, os 40 filmes inscritos falavam, ou de miséria, ou de favelas. Em 68, os 28 selecionados, dos 47 inscritos, continham mais sexo, política e violência do que todos os apresentados nos anos anteriores. Não por acaso, era também a primeira vez, em quatro anos de festival, que a censura comparecia para fiscalizar. No Brasil, o ano ficou na memória pela resistência estudantil à ditadura militar pelo AI-5, (Ato Institucional Número Cinco), que foi um instrumento de poder que deu ao regime poderes absolutos e cuja primeira conseqüência foi o fechamento do Congresso Nacional por quase um ano. A explosão tropicalista foi um movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop-rock e a concretismo). Tinha objetivos sociais e políticos, mas principalmente comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. Os movimentos feministas se dão desde meados dos anos setenta que as mulheres brasileiras já se mobilizavam contra o custo de vida, por creches e timidamente buscavam uma maior abertura política. Neste sentido, muitas pesquisadoras já demonstravam preocupação pela temática feminista e os principais trabalhos versavam sobre mulher e trabalho. A efervescência cultural e de comportamento que embalou todo o período. Todos os movimentos respiravam o ar de uma desejada transformação na sociedade.
Aos artistas e intelectuais restaram apenas as mordaças que calariam as produções culturais. Esmagando como rolo compressor qualquer cisma, por mais estúpida que fosse, sobre a ideologia política dos produtores de arte. Assim, 13 de dezembro de 1968 encerrou o ano idealizado e sonhado pelos estudantes que bebiam dos filósofos e pensadores mais iluminados. A caça às bruxas, que dera início antes mesmo do pronunciamento oficial do ato, matou parcela da esperança que ainda florescia na mente inquieta dos jovens. Para quem foi alvo das perseguições na madrugada e os dias seguintes ao Golpe dentro do Golpe, 1968 deixou no ar a sensação incompleta do ano que terminou.