segunda-feira, 9 de junho de 2008

"1968 - O ano que não terminou"

Para os que viveram o que seria um banal acontecimento, ele permanece como um misterioso marco cujos símbolos e significados ocultos a memória e o tempo vão-se encarregando de descobrir, ou de criar, até obter o material com que se fazem os mitos.
Algo tinha-se movido em 67, ainda que parecesse que se movera para continuar igual. De qualquer maneira, a ditadura havia trocado de ditador, a legislação revolucionária fora substituída por uma Constituição.Com algum otimismo, encontravam-se boas razões para esperar um feliz 68.
Havia a ameaça incansável da censura e de outras forças obscurantistas. Mas estes riscos de retrocesso encontravam o setor cultural vigilante e cada vez mais consciente da necessidade e da possibilidade de resistência. Havia, como sempre, a situação social e política carregada de problemas, o arrocho salarial, os sindicatos sob intervenção, uma insuportável inflação de 40% ao ano, que Delfim Netto prometia reduzir para 25%, mas o segundo governo militar anunciava que queria restabelecer o diálogo com a sociedade e com a classe política. Só por isso o ano de 68 já seria um avanço.
O ano foi marcado por revoltas estudantis na França e pela Primavera de Praga, em oposição ao domínio soviético na então Tchecoslováquia. Em 65, quando foi criado O Festival de Cinema Amador, do JB, os 40 filmes inscritos falavam, ou de miséria, ou de favelas. Em 68, os 28 selecionados, dos 47 inscritos, continham mais sexo, política e violência do que todos os apresentados nos anos anteriores. Não por acaso, era também a primeira vez, em quatro anos de festival, que a censura comparecia para fiscalizar. No Brasil, o ano ficou na memória pela resistência estudantil à ditadura militar pelo AI-5, (Ato Institucional Número Cinco), que foi um instrumento de poder que deu ao regime poderes absolutos e cuja primeira conseqüência foi o fechamento do Congresso Nacional por quase um ano. A explosão tropicalista foi um movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop-rock e a concretismo). Tinha objetivos sociais e políticos, mas principalmente comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. Os movimentos feministas se dão desde meados dos anos setenta que as mulheres brasileiras já se mobilizavam contra o custo de vida, por creches e timidamente buscavam uma maior abertura política. Neste sentido, muitas pesquisadoras já demonstravam preocupação pela temática feminista e os principais trabalhos versavam sobre mulher e trabalho. A efervescência cultural e de comportamento que embalou todo o período. Todos os movimentos respiravam o ar de uma desejada transformação na sociedade.
Aos artistas e intelectuais restaram apenas as mordaças que calariam as produções culturais. Esmagando como rolo compressor qualquer cisma, por mais estúpida que fosse, sobre a ideologia política dos produtores de arte. Assim, 13 de dezembro de 1968 encerrou o ano idealizado e sonhado pelos estudantes que bebiam dos filósofos e pensadores mais iluminados. A caça às bruxas, que dera início antes mesmo do pronunciamento oficial do ato, matou parcela da esperança que ainda florescia na mente inquieta dos jovens. Para quem foi alvo das perseguições na madrugada e os dias seguintes ao Golpe dentro do Golpe, 1968 deixou no ar a sensação incompleta do ano que terminou.

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